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Revista Internacional de Investigación en Ciencias Sociales

On-line version ISSN 2226-4000

Rev. Int. Investig. Cienc. Soc. vol.12 no.1 Asunción July 2016

https://doi.org/10.18004/riics.2016.julio.29-42 

 

ARTÍCULO ORIGINAL

 

Indagações sobre currículo: desenvolvimento humano, multiculturalismo e diversidade cultural

 

Questions about curriculum: human development, multiculturalism and cultural diversity

 

Ademir Guilherme de Oliveira1

 

1 Mestre em Educação Básica, Doutorando Universidad Autónoma de Asunción. Paraguay. Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias (CCHSA), Departamento de Agricultura (DA), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Brasil (ademirguilhermeufpb@gmail.com).

Recibido: 05/05/2016; Aceptado: 30/06/2016.

 


Resumo: A questão do currículo trata-se de um tema complexo no campo da cognição, tendo em vista a necessidade de compreensão de sua significação e re(significação). O presente artigo tem por objetivo realizar uma investigação em torno das indagações sobre currículo a partir de uma perspectiva de desenvolvimento humano, multiculturalismo e de diversidade cultural. Trata-se de uma investigação do tipo qualitativa e de enfoque fenomenológico. A população alvo constou de 10 (dez) professores e de uma amostra de 06 (seis) docentes com base na utilização da técnica de entrevista não estruturada. A coleta dos dados foi obtida através da aplicação do instrumento roteiro de entrevista não estruturado com questões abertas. De acordo com os resultados obtidos, constatou-se que os docentes inquiridos têm dificuldades de compreensão do currículo voltado para o desenvolvimento humano, o multiculturalismo e a diversidade cultural. Portanto, a prática curricular dos docentes enfatiza o currículo impositivo, já que os conteúdos são apresentados aos alunos em sala de aula como algo desvinculado da cultura historicamente construída, dos valores, dos conhecimentos prévios dos alunos e, da diversidade cultural.

Palavras-chave: Educação multicultural, multiculturalismo, diversidade cultural.

 

Abstract: The point of the curriculum it is a complex topic in the field of cognition, in view of the need for understanding of their meaning and re (meaning). This article aims to carry out an investigation around the questions about curriculum from a human development perspective, multiculturalism and cultural diversity. It is an investigation of qualitative and phenomenological approach type. The target population consisted of 10 (ten) teachers and a sample of 06 (six) teachers based on the use of unstructured interview technique. The collection of data was obtained through the application of unstructured interview script tool with open questions. According to the obtained results, it was found that the Faculty respondents have difficulties in understanding the curriculum focused on human development, multiculturalism and cultural diversity. Therefore, the curriculum of teachers practice emphasizes the tax curriculum, since the contents are presented to students in classroom  as something historically built culture unbound, of values, of the students ' previous knowledge and cultural diversity.

Keywords: Multicultural education, multiculturalism, cultural diversity.


 

INTRODUÇÃO

A idéia de partida que me levou a estudar o tema referente a este artigo surgiu das minhas dúvidas e inquietações a partir das conversas informais com os alunos e, principalmente, dos depoimentos dos professores, durante os encontros pedagógicos realizados nas escolas públicas do ensino fundamental. Embora as indagações sobre currículo estejam vinculadas às influências das teorias curriculares pós-críticas, no Brasil, as práticas curriculares centradas no desenvolvimento humano, no multiculturalismo e na diversidade cultural; somente emergiram a partir da edição da LDB nº 9.394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, das Diretrizes Curriculares Nacionais; das Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica; das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (Nove) Anos; PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais Para o Ensino Fundamental; culminando, recentemente, com a criação e implementação de Políticas Públicas Afirmativas que contempla modalidades de ensino voltadas para as classes populares e os grupos sociais, culturalmente diferenciados. Nesse sentido, percebe-se que o currículo se situa em um campo de complexidade, na medida em que o mesmo não se limita apenas ao conhecimento, mas também, a busca pela hegemonia na esfera social, a partir das relações de conflito entre os segmentos escolares.

A realização desse estudo justifica-se, sobretudo, por 03 (três) razões: pessoais, profissionais e sociais. A primeira de las, serefere ao fato de tratar-se de um tema de meu interesse enquanto pesquisador; a segunda, aponta para a necessidade de contribuição da investigação para o aprimoramento do desenvolvimento curricular em  minha  prática acadêmico-docente e; a terceira, diz respeito a socialização dos resultados da pesquisa com os professores da Universidade Federal da Paraíba e das Escolas Públicas, a partir de um modelo curricular que favoreça a melhoria qualitativa do ensino público e, consequentemente, da aprendizagem ativa e significativa para os alunos.

O aludido estudo se propõe a realização de uma investigação em torno de “Indagações Sobre Currículo: Desenvolvimento Humano, Multiculturalismo e Diversidade Cultural”. Trata-se de uma investigação qualitativa, realizada com uma população de 10 (dez) professores, a partir de uma amostra de 06 (seis) docentes do segundo segmento do ensino fundamental. A pesquisa de campo ocorreu através da entrevista não estruturada, aplicada à amostra dos professores que lecionam a disciplina Ciências no 8º ano da referida modalidade de ensino.

Diante do exposto, evidenciou-se o seguinte problema: “De que forma os professores do ensino fundamental estão contemplando as indagações sobre o currículo com base no desenvolvimento humano, no multiculturalismo e na diversidade cultural”. Logo, a partir das considerações iniciais que respaldam a justificativa e a problemática em relação ao tema, a pesquisa tem como objetivo “realizar uma investigação em torno das indagações sobre currículo a partir de uma perspectiva de desenvolvimento humano, multiculturalismo e de diversidade cultural”.

A partir da emergência dos novos modelos educativos e diante das dimensões humanas, econômicas, políticas, sociais e culturais da sociedade, percebe-se a necessidade de busca de respostas em torno das indagações sobre o currículo empregado na educação básica, especialmente, no ensino fundamental. Nessa direção, a operacionalização do currículo deve atender a formação ampla do aluno com ênfase no desenvolvimento humano, no multiculturalismo e na diversidade cultural. Nessa perspectiva, o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento traz o seguinte conceito sobre Desenvolvimento Humano:

o conceito de Desenvolvimento Humano é, portanto, mais amplo do que o de Desenvolvimento Econômico, estritamente associado à idéia de crescimento. Isso significa contrapô-los. Na verdade, a longo prazo, nenhum pais pode manter – e muito menos aumentar – o bem-estar de sua população se não experimentar um processo de crescimento que implique aumento da produção e da produtividade do sistema econômico, amplie as opções oferecidas a seus habitantes e lhes assegure a oportunidade de empregos produtivos e adequadamente remunerados. Por conseguinte, o crescimento econômico é condição necessária para o Desenvolvimento Humano e social e a produtividade é componente essencial desse processo. Contudo, o crescimento não é, em si, o objetivo último do processo de desenvolvimento; tampouco assegura, por si só, a melhoria do nível de vida da população (PNUD, 1996, p.1).

Com Base no Relatório das Nações Unidas Para o Desenvolvimento (PNUD), a década de 90 é marcada pelo debate em que o Desenvolvimento Humano ocupa lugar de destaque na agenda positiva dos países vinculados às Nações Unidas, em relação ao acesso das classes populares aos bens sócio-econômico-culturais da sociedade. Por outro lado, Platt (2010), ao falar do pensamento histórico-crítico, faz o seguinte comentário:

ao debatermos que os conhecimentos apropriados para o desenvolvimento do ser humano estão intrinssecamente atrelados aos modos de produção com as quais os indivíduos respondem as suas necessidades pessoais e coletivas, objetiva e subjetivamente, apontamos a tese da existência de um “currículo” que elencará o conteúdo e a forma objetiva destes conhecimentos validados pelas objetivações sociais e que são acumulados historicamente, necessários para o agir humano – tanto no sentido das generalidades de ser “humano” quanto nas especificidades daquilo que materialmente está disponível para o desenvolvimento em seu aspecto particular (esfera do indivíduo) quanto a totalidade da humanidade (Platt, 2010, p. 5).

Com base no ideário histórico-crítico e no seu pensamento pedagógico, Platt fala da educação enquanto processo dinâmico em que os atores desse mesmo processo (especialmente professores e alunos) assumem um papel pró-ativo quanto ao desenvolvimento humano e curricular ao longo do processo sócio-histórico-cultural. Inclui a educação na dimensão social e histórica de humanização do homem. Logo, os homens produzem a existência e, neste ato, são também produzidos e humanizados.

A questão do Multiculturalismo tem dominado os debates e discussões em toro do currículo; sobretudo, a partir da década de 90. Em uma perspectiva de rompimento com o ideário cultural eurocêntrico, Fleuri (2009) faz o seguinte comentário em torno do multiculturalismo: “são movimentos que interrompem no interior das próprias sociedades ocidentais, articulando-se em torno de variadas especificidades étnicas, de orientações sexuais ou opções de um estilo de vida, de preferências religiosas, de pretenças geracionais ou de limitações físicas de comunicação e locomoção” (Fleuri, 2009, p. 103).

Nessa direção, o debate sobre o multiculturalismo nas sociedades multiculturais são conflitantes, tendo em vista por um lado, a possibilidade dos grupos minoritários etnicamente conquistarem o direito às diferenças e a dignidade, a partir de uma perspectiva de participação crítica nas dimensões sócio-política-econômico-culturais. Essa idéia é compartilhada pelos estudos de Escarião (2006) ao afirmar que,

percebemos que o multiculturalismo é apresentado com muitos sentidos como o conceito de cultura considerado como um conceito estratégico e central para a definição de identidades e de alteridades no mundo de hoje. Da mesma forma, o conceito multiculturalismo é controverso e é permeado de tensões, tanto pelos conservadores como pelos grupos de progressistas de diferentes correntes (Escarião, 2006, p. 47).

A autora enfatiza o multiculturalismo no contexto dos vários sentidos da cultura, o que sugere uma significação e (re)significação do currículo veiculado na escola pública. Nesse embate de conflitos que norteia as correntes norteadora desse movimento, Andrade (2013, p. 16) considera que “o multiculturalismo relaciona-se com as estratégias e políticas que são constituídas para lidar com os conflitos que existem em sociedades multiculturais. O termo ‘multiculturalismo’ abarca uma diversidade semântica, bem como diversidade de perspectivas, umas mais reacionárias e outras mais libertadoras e até as mais libertárias”.

O conceito antropológico de cultura passa necessariamente pelo dilema da unidade biológica e a grande diversidade cultural da espécie humana. Consiste em uma preocupação com a diversidade de modos de comportamento existentes entre os diferentes povos (Andrade, 2013. p. 128). Quanto à diversidade, esta se encontra ligada aos conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou de abordagem, heterogeneidade e variedade. Também, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na interseção de diferenças, ou ainda, na tolerância mútua. É a pluralidade cultural que faz do mundo um lugar rico (Andrade, 2013. p. 128).

Segundo a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, a busca pela diversidade cultural se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Nessa perspectiva, a UNESCO (2002), ao fazer alusão ao pluralismo cultural enquanto resposta política à realidade da diversidade cultural, faz o seguinte comentário:

em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública (UNESCO, 2002, p. 3).

Portanto, afim de que as práticas curriculares nas escolas favoreça a produção dos bens e valores dos grupos étnica e culturalmente diversificados é imprescindível que essa pluralidade do cotidiano dos grupos sociais ocorra com base em um conjunto de práticas sociais que estão expressas nos livros didáticos, nas linguagens oral e escrita, na relação professor-aluno, nas interações sociais, no ambiente familiar, etc,.

Com base no exposto, as DCNGEB-Diretrizes Curriculares Gerais para a Educação Básica, contidas em Brasil (2010) sugerem os seguintes blocos de conteúdos para os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º): pluralidade cultural e a vida das crianças no Brasil (espaço e pluralidade, tempo e pluralidade, vida sociofamiliar e comunitária e, pluralidade e educação); constituição da pluralidade cultural no Brasil e situação atual (continentes e terras de origem dos povos do Brasil, trajetória das etnias no Brasil); o ser humano como agente social e produtor de cultura (linguagens de pluralidade, nos diferentes grupos étnicos e culturais do Brasil, línguas, produção de conhecimento) e; pluralidade cultural e cidadania (organização política e pluralidade; pluralidade e direitos, situações urgentes no Brasil em relação aos direitos da criança, fortalecendo a cidadania).

Portanto, mesmo diante da organização curricular estabelecida no conjunto dessas diretrizes curriculares nacionais e nas indagações sobre currículo estabelecidas nas orientações de Brasil (2008), o currículo praticado em sala de aula não favorece a formação do educando com ênfase no Desenvolvimento Humano, no Multiculturalismo e na Diversidade Cultural.

 

METODOLOGIA

Evidenciou-se no presente trabalho uma investigação qualitativa orientada à compreensão da realidade investigada, fundamentada na fenomenologia. Diante do exposto, trata-se de um estudo qualitativo que busca significados na subjetividade, ou seja, a descrição sobre o pensamento dos docentes entrevistados em relação ao currículo do ensino fundamental, idéia é compartilhada por Alvarenga (2012), Bisquerra (2014) e Richardson (1999).

A população pesquisada constou de 10 (dez) professores do segundo segmento do Ensino Fundamental (6º ao 9º) ano, das escolas do campo (rurais) EMEFMFF e EMEFJPII (Município de Bananeiras) e Escola EMEFJFM (Município de Casserengue). A amostra foi constituída de 06 (seis) docentes que atuam na disciplina Ciências no 8º (oitavo) ano do ensino fundamental das escolas pesquisadas e em relação a forma de realização da coleta de dados, por tratar-se de um tipo de investigação qualitativa fenomenológica, a realização da coleta de dados foi norteada pelo emprego de uma técnica (técnica de entrevista não estruturada) e da aplicação de um instrumento de pesquisa (roteiro de entrevista não estruturado) com questões abertas que buscou informações sobre as idéias e os significados dos docentes inquiridos em torno do tema pesquisado. Por fim, durante a coleta dos dados junto aos professores respondentes, todas as respostas foram devidamente gravadas através do Equipamento Digital Samsung (Modelo SMX- C 200BN/XAZ, S/N: ZBND5V8Z200363L) e da utilização do Programa “soundforge90d.Kegen.and.Patch.Only-WWW.BAIXJEA.COM.rar”.

 

RESULTADOS

A análise dos resultados em relação as indagações sobre o currículo: desenvolvimento humano, multiculturalismo e diversidade cultural foi realizada a partir dos comentários expressos pelos docentes nas seguintes questões: Questão 1- Qual(is) a(s) principal(is) indagação(ões) que o docente se depara no cotidiano do trabalho com o currículo no ensino fundamental?; Questão 2- Qual(is) a(s) dimensão(ões) norteadora(s) do currículo voltado para a formação humana?; Questão 3- De que forma a transversalidade está sendo contemplada no currículo do ensino fundamental? e; Questão 4- Como a diversidade cultural está sendo contemplada no currículo do ensino fundamental?. Cada docente constante da amostra foi designado por: D1, D2, D3, D4, D5 e D6. Para tanto, os resultados foram obtidos através da análise de conteúdo proposta por Bardin (2007) e que Franco (2007. p. 23), ao fazer referência ao assunto, apresenta a seguinte definição de análise de conteúdo: “a análise de conteúdo é um procedimento de pesquisa que se situa em um delineamento mais amplo da teoria da comunicação e tem como ponto de partida a mensagem”.

Questão 1– Quais as principais indagações que o docente se depara no cotidiano do trabalho com o currículo no ensino fundamental?

Com base nos dados da entrevista realizada com os inquiridos sobre a questão “qual(is) a(s) principal(is) indagação(ões) que o docente se depara no cotidiano do trabalho com o currículo no ensino fundamental?”, 01 (um) dos docentes expressou-se conforme a seguir;

na minha visão, o professor deve usar no seu trabalho com o currículo, os valores humanos (direitos e deveres, solidariedade, respeito ao outro) e valores culturais (musica raiz, dança, folclore). Os valores humanos estão contidos nas diretrizes curriculares nacionais do ensino fundamental e orienta que as propostas e praticas pedagógicas deve caminhar em direção a valorização da solidariedade, do respeito aos bens da sociedade, da sensibilidade e da criatividade. A possibilidade do trabalho com os temas transversais na pratica curricular trata-se de uma realidade concreta, visto que a parte diversificada faz parte das diretrizes e dos parâmetros curriculares nacionais. A cultura tem diferentes conteúdos, ela apresenta elementos culturais comuns, tais como: valores, normas, idioma e tecnologia; no caso do trabalho com o currículo é importante priorizar os valores humanos e culturais (D3).

Diante do exposto, no comentário supracitado evidenciou que apenas 01(um) docente entrevistado tem conhecimento sobre as atuais indagações que esses docentes fazem sobre o trabalho com o currículo no ensino fundamental. Por outro lado, 05(cinco) dos docentes inquiridos se posicionaram da seguinte forma:

para que o professor trabalhe com base nos valores, é preciso que ele cumpra apenas os conteúdos básicos da base comum obrigatória. Muitos tem falado em valores humanos, mais, na minha opinião, os valores humanos são as qualidades dos alunos e seus familiares  e não tem relação  com o currículo. Eu penso que é possível trabalhar os temas transversais apenas nas comemorações das datas históricas. Elementos culturais são aqueles conteúdos curriculares sugeridos pelos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (D1, D2, D4, D5 e D6).

Com base na amostra dos entrevistados, a maioria absoluta dos docentes, ou seja, 05 (cinco) deles responderam que não têm conhecimentos sobre os questionamentos que os profissionais do magistério deve ter em relação a prática curricular emergente no ensino fundamental. O fato dos docentes não incorporarem as idéias em torno da questão formulada, representa uma situação inquietante, na medida em que os profissionais do magistério investigados têm em relação ao desenvolvimento curricular com ênfase na educação para a diversidade. Nessa perspectiva, diante da realidade do sistema educacional brasileiro, marcado pelas desigualdades sociais e pela multiculturalidade, é imprescindível um olhar sobre as práticas curriculares no ensino fundamental que atenda  aos princípios e fundamentos de uma educação para a diversidade, especialmente, as classe populares trabalhadoras e os demais grupos ou segmentos minoritários.

Questão 2– Quais as dimensões dês norteadoras do currículo para a formação humana?

Com base nas respostas dos inquirido em torno da questão “qual as dimensões norteadoras do currículo para a formação humana?”, os docentes investigados informaram que;

a questão da dimensão histórica do currículo não tem nenhuma influência sobre a formação humana, já que esta formação somente tem relação com as indagações sobre o currículo que fazem parte das recentes orientações do MEC – Ministério da Educação com direção para o desenvolvimento humano. Os valores humanos acumulados faz parte do passado e não tem nada a ver com os conteúdos atuais ministrados em sala de aula. A possibilidade do contato entre grupos sociais contribuírem com o currículo escolar não faz sentido, tendo em vista que na questão do currículo da escola o que interessa são os conteúdos estabelecidos na base comum nacional do currículo obrigatório. Já em relação as experiências humanas vivenciadas e as relações entre grupos sociais, ficam situadas no campo das experiências de vida e, portanto, fora das aprendizagens de conteúdos básicos (D1, D2, D3, D4, D5 e D6).

Diante do posicionamento dos docentes supracitados verificou-se que nenhum desses profissionais do magistério têm compreensão sobre as dimensões balizadoras do currículo voltado para a formação humana. Nessa perspectiva, evidenciou-se uma situação preocupante, visto que as concepções teóricas e os documentos oficiais apontam para a necessidade dos docentes que lecionam no ensino, incorporarem as dimensões que orientam o currículo no sentindo da formação humana. Portanto, o estudo do currículo com ênfase no desenvolvimento humano é precedido de concepções que norteiam a formação humana. Via de regra, as análises em torno da formação humana são concentradas no significado do que seja o ser humano, sem entretanto, fazer referência a sua produção histórica.

Questão 3– De que forma a transversalidade está sendo contemplada no currículo do Ensino Fundamental?

Diante dos dados coletados junto aos entrevistados em torno da questão “de que forma a transversalidade está sendo contemplada no currículo do ensino fundamental?”, 02 (dois) docentes se posicionaram conforme abaixo explicitado:

os temas transversais fazem parte dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino fundamental e se refere a um elenco de temas que não são disciplinas e que aparecem agregados nas áreas que fazem parte do currículo que forma a base comum nacional. Acho que essa possibilidade de utilização dos temas transversais nos projetos da escola já é uma realidade no cotidiano escolar, em virtude dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais orientarem e sugerirem os seguintes temas: ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e outros. A questão multiculturalismo se refere as estratégias adotadas nas políticas públicas para resolver os problemas das sociedades com muitas culturas como Brasil e, entre os temas do multiculturalismo presente no Projeto Político-curricular da escola, destaca-se, a diversidade de gênero, raça, sexualidade, a intolerância, o preconceito  e a violência (D1 e D2).

Logo, a partir dos discursos supracitados constatou-se que somente 02 (dois) dos docentes entrevistados têm conhecimentos sobre os temas emergentes, referente às questões que afetam o cotidiano do entorno da escola. Por outro lado, 04 (quatro) docentes respondentes apresentaram o seguinte comentário:

percebo que temas transversais são assuntos importantes para a integração sócio-cultural dos povos, mas, não diz respeito aos conteúdos curriculares que fazem parte da base comum obrigatória. No que diz respeito a possibilidade de usar os ditos temas nos projetos de interesse educativo da escola, acho que eles são desnecessários, tendo em vista que: o que é mais importante para a escola são os conteúdos básicos selecionados  para serem repassados aos alunos em sala de aula, os temas dos projetos e eventos não fazem parte do currículo escolar. Vejo que os temas do multiculturalismo são os hábitos, as modas e os modos de vida que são importados de um pais para outro e não entram no do projeto pedagógico-curricular da escola (D3, D4, D5 e D6).

Portanto, de conformidade com os discursos dos docentes investigados, a maioria deles não estão atualizados quanto a transversalidade e de que forma os temas emergentes estão sendo atendidos pelo currículo do ensino fundamental. Logo, evidenciou-se no discurso da maioria desses profissionais do magistério, uma situação inquietante, já que as teorias e os documentos oficiais sobre o desenvolvimento do currículo orientam e sugerem temas emergentes sobre a problemática do entorno da escola e que compõem a base diversificada do currículo.

Questão 4– Como a diversidade cultural está sendo contemplada no currículo do ensino fundamental?

Com base nos dados obtidos na entrevista em torno da questão “como a diversidade cultural está sendo contemplada no currículo do ensino fundamental?”, 01 (um) dos inquiridos fez o seguinte comentário:

entendo que a diversidade envolve diferentes sujeitos com traços diferenciados que produzem diferentes culturas ao longo da história, mais, essa diversidade deve constar da proposta e da prática do currículo da escola. No que se refere a construção cultural, vejo que de acordo com os conhecimentos prévios e valores culturais das diferenças,  há necessidade da escola executar  projetos educativos e realizar eventos que mostre as formas de manifestação desses sujeitos diferenciados. Quanto a construção social, a escola deve oportunizar momentos de integração entre as produções culturais diferentes, valorizando o respeito aos diferentes e a diversidade dessas manifestações culturais (D6)

Portanto, constatou-se que somente 01 (um) dos docentes incorporou os conhecimentos referente a diversidade cultural e como essa diversidade está sendo atendida no currículo do ensino fundamental. Em Contraposição a esse discurso, 05 (cinco) dos demais profissionais do magistério responderam sobre a mesma, questão, que:

quando falamos da diversidade, significa as diferenças biológicas e das experiências de vida dos sujeitos, mas, isso não tem nada a ver com a prática curricular, já que o trabalho com o currículo ao longo da nossa história valoriza apenas os conteúdos curriculares obrigatórios, sugeridos pelos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Quanto a construção cultural das diferenças, os variados conhecimentos prévios dos alunos fazem parte das experiências acumuladas pelos alunos, mais, não tem nenhuma relação com o trabalho do currículo na escola. Logo; a construção social das diferenças, ou seja, as formas de relações sociais entre os sujeitos históricos não possui valor cultural que influencie no currículo da escola (D1, D2, D3, D4 e D5).

Diante das respostas dos entrevistados verificou-se que a maioria absoluta dos docentes inquiridos não incorporaram as idéias sobre a diversidade cultural e qual o nível de inserção no currículo da escola pública do ensino fundamental. Esse posicionamento contido no discurso dos docentes investigados evidencia uma situação inquietante na medida em que a atual tendência em relação a operacionalização do currículo orienta na perspectiva prática curricular que contemple, necessariamente, a diversidade cultural, ou seja, a valorização e preservação dos grupos diferenciados e de duas produções culturais.

 

DISCUSSÃO

Os docentes pesquisados se posicionaram de forma inquietante sobre os valores humanos e culturais, a inserção dos valores humanos nas diretrizes curriculares nacionais, a possibilidade de trabalho com os temas transversais na pratica curricular e diferentes conteúdos ou elementos da cultura: valores, normas, idioma e tecnologia; a dimensão histórica do currículo e sua vinculação com a formação humana, a relação da dimensão humana com os conteúdos curriculares, possibilidade do contato entre os grupos sociais influenciarem no currículo escolar e, a relação das experiências humanas vivenciadas com o currículo; a transversalidade presente nos PCN, possibilidade de utilização de temas transversais nos projetos da escola (ética, saúde, meio ambiente, pluralidade cultural e outros) e, a questão do multiculturalismo presente no Projeto Pedagógico – Curricular da escola (diversidade cultural, gênero, raça, sexualidade, violência, etc.) e; a diversidade de diferentes sujeitos e a produção histórica de diferentes culturas, a construção cultural a partir dos conhecimentos prévios e valores culturais das diferenças, execução de projetos sócio-educativos e realização de eventos que contemple as formas de manifestações culturais dos sujeitos diferenciados e a construção da valorização do respeito aos diferentes e da diversidade das manifestações culturais desses diferentes.

Portanto, evidenciou-se uma situação preocupante nas respostas dos inquiridos, na medida em que os docentes têm dificuldades quanto a compreensão em torno das Indagações sobre Currículo com ênfase no Desenvolvimento Humano, no Multiculturalismo e na Diversidade Cultural. Logo, constatou-se que durante a prática curricular, os sistemas de ensino impõem modelos de currículos oficiais, ancorados em uma prática curricular dos docentes que reproduz uma concepção clássica, na medida em que a escola prioriza o trabalho com o currículo, de forma fragmentada, ou seja, os conteúdos são apresentados aos alunos em sala de aula como algo desvinculado da cultura historicamente construída, dos valores, dos conhecimentos prévios dos alunos e da diversidade cultural.

Diante do exposto, percebe-se a necessidade da continuidade do aludido estudo, a fim de confirmar a confiabilidade e a fidedignidade plena da pesquisa. Para tanto, essa continuidade deve ser respaldada na realização de um arrojado plano de formação continuada em torno de temas relacionados com as dificuldades detectadas na entrevista com os docentes investigados. É imprescindível também que os Projetos Pedagógico-Curriculares das escolas contemple concepções pedagógicas e, consequentemente, práticas curriculares em ambientes laboratoriais vivos e adaptados à realidade campesina, favorecendo a uma aprendizagem voltada para a reflexão científica e a solução de problemas do cotidiano dos alunos do ensino fundamental das escolas do campo pesquisadas.

 

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