INTRODUÇÃO
Atualmente vários programas de fertilização recomendam a aplicação de altas doses de potássio em forma de K2O. No momento de definir a dose de K2O a ser administrada na semeadura da cultura, é importante considerar alguns cuidados, pois pode afetar significativamente a germinação das sementes e, em alguns, casos até o crescimento das raízes. Nas regiões com escassas precipitações ou que apresentam déficit hídrico, esse efeito é mais ocorrente, pois há maior concentração de sais na solução do solo que prejudicam as sementes e raízes (Tôrres et al. 2004).
Na agricultura atual o cloreto de potássio (KCl) é o fertilizante potássico mais utilizado, porém, com alto poder salino (Raij 1991). O índice salino representa a capacidade do adubo de aumentar a pressão osmótica da solução do solo, podendo ser determinado por meio da condutividade elétrica. O potencial de salinização de um adubo depende da solubilidade e de sua natureza química. O KCl, por exemplo, por cada unidade de K temos um índice salino de 1,93, enquanto que o índice do superfosfato triplo [Ca(H2PO4)2] é de 0,21 por unidade de P (Osaki 1991).
Portanto, pode-se destacar que a dose de K, ou seu posicionamento com relação às sementes, pode ocasionar aumento da concentração eletrolítica da solução do solo nas regiões fertilizadas e nas suas adjacências, isto pode prejudicar o processo de germinação e o desenvolvimento inicial das raízes com reflexos negativos na população e no desenvolvimento das plantas, e consequentemente na produtividade (Souza et al. 2007). A alta concentração de sais dificulta a absorção de água pelas sementes e pelas radicelas devido ao aumento da pressão osmótica externa às células (Marschner 1995).
Na agricultura atual, busca-se cada vez mais a utilização de equipamentos que permitam obter dados mais precisos e com maior eficiência para correlaciona-los a outras propriedades de difícil obtenção, visando à redução de gastos, tempo e aumento de produtividade. Nesse contexto, o interesse por métodos que permitam determinar a variabilidade espacial de atributos do solo de maneira rápida e barata, de forma a proporcionar a obtenção de um grande número de medidas por unidade de área, como a condutividade elétrica do solo (CE) tem registrado aumento considerável (Machado et al. 2006). A CE é medida pela indução eletromagnética dos solos, podendo ser realizada com contato ou sem contato com o mesmo (Molin et al. 2005).
Existem poucos trabalhos que avaliaram o efeito negativo da adição de KCl sobre as plantas, relacionados à quantidade e localização do fertilizante em relação a sementes, porem vários autores encontraram prejuízos na germinação e no desenvolvimento das culturas pela adição de grandes quantidades de KCl. Neste contexto, Bevilaqua et al. (1996a), avaliaram a germinação da soja e constataram decréscimo, porém somente a partir da adição de 400 kg ha-1 de K2O, em solo com 240 g kg-1 de argila. Com o objetivo de evitar redução na população final de plantas devido ao efeito salino Kluthcouski (1999) enfatiza que doses maiores do que 30 a 40 kg ha-1 de K2O devem ser aplicadas somente a lanço após a emergência das plântulas, para as culturas de feijão, soja e arroz.
Com relação à distância verifica-se que quanto mais distante o adubo é colocado da semente, menor é o dano às mesmas e ao desenvolvimento das plântulas. Bevilaqua et al. (1996b) aplicaram 75 kg ha-1 de K2O na forma de KCl distante das sementes, lateralmente e verticalmente, de 0 a 7,5 cm, e encontraram menor absorção de K por plântulas de milho quando o fertilizante foi colocado até 1,5 cm, em solo com 240 g kg-1de argila. Quando o fertilizante foi posicionado a 7,5 cm, verificou-se acentuada redução na absorção de K devido a menor mobilidade deste nutriente no solo. A maior absorção de K ocorreu quando o KCl foi posicionado a 4,4 cm das sementes.
Além disso, observaram-se decréscimos na velocidade de emergência da soja quando foram aplicadas junto, e a 2 cm ao lado e abaixo das sementes, doses de 50 a 100 kg ha-1 de P2O5 e K2O utilizando como fonte a formulação 00-25-25 (Bevilaqua et al. 1996b). No entanto, Bevilaqua et al. (1997) encontraram redução do peso da massa seca de trigo com a aplicação do fertilizante 05-25-25, na dose equivalente a 300 kg ha-1 do mesmo, em distâncias maiores que 1,25 cm ao lado e abaixo da semente, e na umidade do solo de 20%.
Existem alternativas para diminuir o efeito salino pela ação dos fertilizantes no solo, como a utilização de adubos de tecnologia inédita como o K-UP(r), com base em potássio, baseado na complexacão de duas moléculas (ACP complex e AZAL5) que permitem reduzir o processo de salinização, promovendo mais raízes e maior segurança para a lavoura, diminuindo a lixiviação do K, e que seja realmente aproveitado pela planta (TIMAC AGRO 2016).
As recomendações de adubação de K no momento da semeadura é variável, dependendo da região do Brasil, de acordo com a textura, a composição mineralógica, CTC, pH e conteúdo de água no solo, e com a espécie vegetal. Na região do Cerrado é recomendado que doses superiores a 60 kg ha-1 de K2O devam ser aplicadas preferencialmente a lanço, pois estes solos apresentam baixa capacidade de retenção de potássio (Bernardi et al. 2003).
A possibilidade de aplicar todo o fertilizante potássico na semeadura do milho permite redução dos custos das operações agrícolas. Sendo assim, é importante realizar trabalhos para avaliar os efeitos oriundos da utilização de todo adubo potássico na linha de semeadura. Neste sentido, o presente trabalho teve como objetivo avaliar o efeito de doses crescentes de duas fontes de potássio aplicadas a uma distância a partir da linha de semeadura, na germinação e no estabelecimento inicial de plântulas de milho, assim como na condutividade elétrica do solo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado em ambiente protegido no Centro R&D Sudamérica da empresa Timac Agro Paraguai, situado no município de Minga Guazú do Departamento de Alto Paraná, no período de janeiro e fevereiro de 2016. O clima, classificado segundo Koeppen, é do tipo Cfa, subtropical, com média anual de precipitação de 1.700 mm, mantendo-se a média anual de temperatura entre 22°C e 23°C (Huespe et al. 1995).
Foi coletado solo de textura argilosa e nível de fertilidade media a profundidade de 0-20 cm de uma área de lavoura, com predominância de solo classificado como Rhodic Kandiudox (López et al. 1995). Posterior à coleta, os solos foram secados ao ar e passados em peneira com abertura de malha de 0,4 cm.
As principais características químicas do solo, segundo a metodologia de Lana et al. (2010) após correção da acidez, apresentaram os seguintes resultados: Ca+2 0,53 cmol-c dm-3; Mg+2 0,15 cmol-c dm-3; K+ 0,05 cmol-c dm-3; Al +3 0,22 cmol-c dm-3; MO 1,30 g kg-1; P 2,12 mg dm-3; pH H2O 6,25; pH CaCl2 5,46.
Foi utilizado o delineamento fatorial inteiramente casualizado, envolvendo duas fontes de K, quatro doses, uma localização do fertilizante em relação às sementes e quatro repetições. As doses consistiram em equivalentes a 0, 50, 100 e 150 kg ha-1 de K2O, posicionadas lateralmente a 0,03 m da linha de semeadura. As fontes de K foram aplicadas na forma de KCl com 60% de K2O e K-UP(r) com 40% de K2O, cujos grânulos possuíram diâmetro inferior a 2,0 mm e o hibrido DKB 357 de milho (Zea mays) foi utilizada como planta teste. A densidade foi de 1,2 g dm-3 de solo.
O solo apresentou pH H2O inferior a 5,5, aplicou-se calcário dolomítico, com o objetivo de elevar o pH para valores entre 5,5 e 6,0, e a seguir permaneceram em incubação durante 45 dias com aproximadamente 80% do teor de água mantido na capacidade de campo.
Após esse período, eles foram acondicionados em caixas plásticas sem furo na base, com dimensões de 0,40 m de comprimento x 0,20 m de largura x 0,13 m de altura, e procedeu-se à adição do KCl e K-UP(r) e à semeadura do milho. Cada caixa foi dividida em duas partes no sentido do maior comprimento e cada parte constituiu uma unidade experimental. Em cada unidade foram colocadas oito sementes numa única linha, na profundidade de 2 cm, após a aplicação do KCl e K-UP(r) que também foram posicionados em linha, porém, a 5 cm de profundidade, 3 cm abaixo das sementes.
Desde a semeadura até o início da germinação, a umidade do solo foi mantida em aproximadamente 80% do teor de água retido na capacidade de campo, sendo irrigadas diariamente de acordo com a sua capacidade de máxima absorção de água. A partir da germinação, a água destilada foi adicionada a cada dois dias, para repor as perdas por evapotranspiração.
Na planta, foi avaliada a massa seca das raízes após 10 dias da germinação. Sendo o sistema radicular lavado em peneira com malha de 0,053 mm e seco em estufa. No solo foi determinado o valor de condutividade elétrica do extrato em saturação, com um condutivímetro portátil Hanna HI 8733, após da retirada das plantas cujo centro tanto vertical como horizontal foi posicionado entre a linha de colocação do adubo e da semente.
Os resultados foram submetidos a análise de variância e aplicado o teste de Tukey ao 5% de probabilidade de erro quando significativo. O programa utilizado foi o software livre Genes- Genética Quantitativa e Estatística Experimental-VS 2009.7.0 (Cruz 2006).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A condutividade elétrica não diferiu estatisticamente entre as duas fontes de potássio utilizado (Figura 1), porém, a testemunha diferiu das demais, o que demonstra o efeito salino do potássio no solo indiferente das fontes utilizadas, mais sem alcançar um nível de salinidade prejudicial no solo (>2,0 dS m-1).
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Figura 1 Condutividade elétrica no solo das diferentes fontes utilizadas, testemunha (sem K2O), K-UP(r) (40% de K2O), KCl (60% de K2O). Minga Guazú, Paraguai, 2016.
Em relação às doses, a condutividade elétrica aumentou linearmente com o aumento da dose de KCl aplicada, nas duas fontes utilizadas em função de que o aumento da concentração eletrolítica da solução do solo é proporcional ao incremento na concentração de íons na solução.
O maior valor de condutividade elétrica encontrado no solo foi de 0,37 dS m-1 com a fonte KCl na dose de 150 kg ha-1 (Figura 2). Para o K-UP(r) a maior condutividade elétrica encontrada foi de 0,24 dS m-1 (Figura 2). A explicação para esse resultado está na tecnologia encontrada no K-UP(r), o fato dele ter o complexo de duas moléculas o ACP complex com a função de promover baixa salinidade e baixa lixiviação e maior residual no solo e o AZAL5 que promove a proteção da radicela e mais absorção.
Em trabalhos onde a adubação ultrapassa essa dose e a quantidade de dias analisado, é maior como em Brady (1997) e Maas (1985) os resultados corroboram com o presente trabalho demonstrando que o milho é uma cultura moderadamente sensível à salinidade, atingindo máximo potencial produtivo próximo de 1,7 dS m-1, porém essa cultura cessa o crescimento vegetativo com 10,0 dS m-1, por tanto, comparando com o experimento ambos fertilizantes não atingiram niveles críticos de CE com as doses de K2O aplicadas.
Raij e Cantarella (1996) para solos de São Paulo sugerem que a dose máxima de KCl a ser aplicada na semeadura do milho não deve ultrapassar 60 kg ha-1 de K2O. Borkert et al. (1997) observaram efeito salino do KCl em um Latossolo (EMBRAPA 2003), quando aplicado em doses superiores a 80 kg ha-1 de K2O no sulco de semeadura.
Fancelli (2002) também recomenda um máximo de 50 kg ha-1 K2O na semeadura do milho e sugere que o fertilizante deva ser posicionado preferencialmente a distâncias superiores a 8 cm das sementes. A Comissão de Fertilidade de Solo de Goiás (1988) recomenda a aplicação de 40 kg ha-1 de K2O na cultura do milho.
A adição de 16,6 g KCl m-2 reduziu a produção de raízes e a absorção de P por plantas de pimentão cultivadas num Latossolo com 24,0 g dm-3 de MO (Silva et al. 2001).
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Figura 2 Efeito das diferentes doses de K2O kg há-1 em KCl e K- UP(r) na condutividade elétrica do solo. Minga Guazú, Paraguai, 2016.
Para a massa seca das raízes (MSRA) os valores encontrados na avaliação mostram que com o aumento da dose de K2O nas duas fontes utilizadas ocorreu diminuição no teor de MSRA (Figura 3). A redução observada pode ser explicada pelo fato da alta concentração de sais, pode ser um fator de estresse para as plantas, pois reduz o potencial osmótico do solo, dificulta a absorção de água pelas raízes e aumenta a concentração de íons no protoplasma, sendo fator limitante para o crescimento e a produção das culturas, induzindo modificações morfológicas, estruturais e metabólicas nas plantas superiores (Amorim et al. 2002).
Nas raízes há redução do crescimento imediatamente após a indução do estresse por consequência exclusivamente de alterações nas relações hídricas da célula e também ocorre queda na velocidade de elongação foliar resultante de uma redução no número de células em processo de elongação, na taxa de elongação dessas células (Willadino e Camara 2010).
Para corroborar com o presente trabalho Neves (2007) em influência de doses e da localização de cloreto de potássio na germinação de milho e na difusão de K em solos observou que com o aumento da dose de fertilizante o rendimento de MSRA diminui, foi encontrado o máximo rendimento de MSRA de 0,80 g com a dose de 115 kg ha-1 de K2O com o fertilizante distante 2,5 cm da semente.
Em vários trabalhos sobre o efeito da condutividade elétrica em diferentes culturas, Gondim et al. (2010) estudou a condutividade elétrica na produção e nutrição de alface em sistema de cultivo hidropônico e observou que a massa seca de raízes foi significativamente afetada pela CE da solução nutritiva com efeito quadrático, ocorrendo decréscimos relativos com o aumento da condutividade de 0,5 mS cm-1.
Utilizando a fonte K-UP(r) não houve diferença significativa na MSRA para as diferentes doses o que não ocorreu para a fonte KCl. Quando se utilizou 50 Kg ha-1 de K2O com KCl encontrou-se 0,072 g de MSRA e com a dose de 100 e 150 Kg ha-1 de K2O houve decréscimo de 0,029 g e 0,038 g de MSRA.
A máxima MSRA encontrada com a utilização do K-UP(r) foi menor do que a máxima MSRA observada com o KCl, porém, com o aumento das doses, a diminuição no desenvolvimento das raízes foi maior para a fonte KCl, o que demonstra que ao utilizar essa fonte como adubação para a cultura tem que ser criterioso para a recomendação e levar em consideração diversos fatores como teor de K no solo e pH, tendo em vista que doses excessivas diminui consideravelmente a MSRA, o que afeta o desenvolvimento da planta.
CONCLUSÃO
Tanto o KCl e o K-UP(r) causam aumento na condutividade elétrica do solo. A utilização do K-UP(r) se mostrou mais eficiente em relação a condutividade elétrica do solo e a MSRA apresentando uma menor CE, o que demonstra que essa fonte pode ser utilizada como uma alternativa para diminuir os danos causados pelo KCl ao sistema radicular do milho.
O aumento na dose de K2O pela fonte K-UP(r) é menos prejudicial às plantas do que o aumento desta com KCl. Há necessidade de mais estudos sobre condutividade elétrica e o efeito da salinização com as diversas fontes de K2O existentes no mercado.